Porque rejeitamos avaliações paralelas de cursos realizadas pela mídia

A diretoria da Associação Brasileira de Ensino de Jornalismo (ABEJ) torna pública sua posição contrária a iniciativas de avaliação institucional não-oficiais de cursos e instituições de ensino superior realizadas por sites e jornais. A prática tem se mostrado problemática em termos metodológicos, uma vez que os aspectos avaliados não consideram critérios efetivos para a qualidade do ensino, pesquisa e extensão. Além disso, os processos de avaliação são pouco claros quanto aos parâmetros adotados e não há análise de documentos ou materiais comprobatórios. Na maioria dos casos, as equipes que realizam a avaliação, por exemplo, não são capacitadas ou remuneradas para este tipo de ação.

No Ranking Universitário da Folha (RUF), por exemplo, um dos critérios com maior peso é a opinião de outros professores a partir de uma pesquisa feita pelo DataFolha, como indicado no próprio site do jornal. Além disso, o item “Pesquisa”, ainda que muito relevante para a formação superior, tem maior peso do que “Ensino”. Já no Guia da Faculdade, do Estadão, as avaliações são feitas por outros professores sem critérios claros de seleção ou treinamento para a atividade. Esta avaliação é feita com base na autodeclaração de coordenações de curso sem a conferência de documentos oficiais, como ocorre, por exemplo, nas avaliações institucionais realizadas pelo Instituto Anísio Teixeira (Inep).

Outro aspecto problemático está na classificação dos cursos e na comparação entre áreas completamente distintas. No ranking da Folha, por exemplo, o curso de Jornalismo é nominado como “Comunicação”, contrariando a nomenclatura oficial, conforme as Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs) vigentes desde 2013. No ano passado, a ABEJ já havia se manifestado publicamente sobre isso e enviado o questionamento à redação do jornal, que não justificou a manutenção do equívoco.

As avaliações também não levam em conta as especificidades dos cursos e nem as características regionais. A inserção locorregional, por exemplo, não faz parte dos critérios de avaliação dos rankings, criando desproporções nos resultados. Um curso universitário que cumpre um papel social relevante, por exemplo, acaba sendo mal avaliado e o contrário também pode ocorrer.

Por fim, o maior problema está relacionado ao incentivo à competição mercadológica entre as instituições. Muitas, principalmente, na iniciativa privada, tendem a se especializar na demonstração de itens que são avaliados por iniciativas de rankeamento, com vistas à valorização da marca para atrair alunos novos. Sem uma avaliação mais rigorosa, abrem-se brechas para a distorção dos resultados, mostrando excelência aparente quando as condições de trabalho dos professores são, na verdade, precárias.

Por outro lado, nas universidades públicas, os resultados assumem um tom punitivo. Se o resultado é ruim, os professores são culpabilizados, fortalecendo a crítica ao sistema público e a defesa da privatização do ensino. Mas se o resultado for “bom”, reforça-se os argumentos de que não é necessário aumentar investimentos públicos, como se as condições fossem ideais – quando, na verdade, o contexto é de sucateamento e diminuição de investimentos.

Nesse sentido, a diretoria da ABEJ sustenta que práticas de avaliação de cursos e instituições paralelas, realizadas por organizações privadas de mídia, devem ser rejeitadas. Ao mesmo tempo, a associação defende avaliações rigorosas e justas, com critérios claros e transparentes, realizadas por órgãos oficiais como o Ministério da Educação. A avaliação institucional não deve ser punitivista, nem promover a competição mercadológica, mas precisa ser aprimorada e discutidas publicamente para que os processos resultem em melhorias para a educação superior brasileira.

Diretoria Executiva da ABEJ

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