Carta de Curitiba

As professoras e os professores dos cursos de Jornalismo, associados e associadas à Associação Brasileira de Ensino de Jornalismo (ABEJ) e participantes do 24º Encontro Nacional de Ensino de Jornalismo (ENEJor), realizado na Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), em Curitiba, entre os dias 28 e 30 de abril de 2025, forma híbrida (presencial e remota), publicam este documento orientador que sintetiza os debates e as atividades desenvolvidas ao longo do evento. O encontro também contou com apoio da Universidade Tuiuti do Paraná (UTP) e da Fundação Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), além da Federação do Comércio do Estado do Paraná (FecomércioPR), da Companhia de Saneamento do Paraná (Sanepar), da Livraria Vertov e da PUCPRESS.
Durante os dias que se seguiram foram realizados debates em torno do tema central “Ensino de jornalismo nas reconfigurações do ecossistema midiático: desafios e possibilidades”. O encontro reuniu docentes, pesquisadores, profissionais e estudantes de diversas regiões do Brasil e contou com a presença internacional do professor João Canavilhas, da Universidade da Beira Interior (Portugal), referência nos estudos sobre jornalismo digital. A programação incluiu mesas temáticas com foco em ensino, inovação, gênero e convergência, oficinas práticas, visitas a laboratórios, lançamento de livros e encontros de grupos de pesquisa.
Fortalecer o jornalismo comprometido com os direitos sociais, a liberdade de expressão e a democracia. Frente à fragmentação da categoria, às novas formas de precarização do trabalho e à perda de vínculos formais, é urgente desenvolver estratégias de aprendizagem que dialoguem com os novos perfis profissionais, ampliem a rede de proteção e atualizem as formas de representação.
A valorização da profissão também exige a retomada da exigência do diploma superior específico para o exercício da profissão e a defesa dos cursos superiores de jornalismo. O diploma é um instrumento de qualificação e de reconhecimento da formação ética, crítica e técnica indispensável ao exercício de uma atividade de interesse público. Sua obrigatoriedade é uma conquista que precisa ser restaurada como símbolo da dignidade profissional e da responsabilidade social do jornalismo.
A construção de uma política educacional coerente com a complexidade do ensino de jornalismo exige participação ativa nos espaços de formulação das diretrizes avaliativas. A ausência de critérios específicos e sensíveis às características da área ameaça reduzir a formação jornalística a métricas genéricas, desconsiderando suas dimensões práticas, críticas e ético-sociais. A ABEJ reivindica participação nos processos conduzidos pelo MEC e pelo Inep, especialmente nas reformulações previstas para os ciclos avaliativos futuros. A defesa da qualidade do ensino passa, necessariamente, pela inclusão da área nos debates regulatórios, respeitando a diversidade institucional e regional dos cursos e garantindo avaliações justas e contextualizadas.
A exigência da curricularização da extensão tem exposto desigualdades profundas entre as instituições e revelado desafios estruturais para a implementação de projetos com impacto social real. A extensão universitária deve ser parte viva da formação em jornalismo, articulando saberes acadêmicos e demandas sociais, mas sua efetivação exige suporte, planejamento e compromisso institucional. Por isso, é urgente a criação de uma rede nacional de extensão em jornalismo, que promova a articulação entre cursos, compartilhe boas práticas e enfrente coletivamente os entraves da implementação. A extensão não pode ser um apêndice burocrático, mas deve ocupar lugar central na formação crítica e cidadã do jornalista.
A formação em jornalismo deve preservar e valorizar disciplinas que mobilizam múltiplas linguagens e saberes, como o fotojornalismo. Ao integrar memória, estética, política e representação, essa área do conhecimento contribui para a construção de uma formação sensível, crítica e comprometida com os direitos humanos. É importante que os currículos acolham abordagens interseccionais que problematizem as relações de gênero, raça, etnia, território e tecnologia, rompendo com lógicas excludentes e promovendo uma pedagogia da diversidade. O jornalismo não se aprende apenas com técnicas: aprende-se com olhar, escuta, sensibilidade e ética – dimensões que precisam ser reafirmadas em todos os espaços formativos.
O domínio informacional exercido pelas big techs precisa ser enfrentado com coragem política e responsabilidade institucional. As plataformas digitais não podem seguir operando com opacidade algorítmica, práticas predatórias de remuneração e descompromisso com a integridade da informação. O jornalismo, enquanto bem público, deve ser protegido por uma regulação que garanta transparência, diversidade, responsabilidade e sustentabilidade econômica. É dever das entidades acadêmicas e representação profissional somar esforços para exigir a criação de marcos regulatórios que assegurem o direito à informação de qualidade, o combate à desinformação e a justa remuneração de conteúdos jornalísticos.
A adoção de tecnologias baseadas em inteligência artificial não pode ocorrer sem reflexão crítica e posicionamento ético. O jornalismo não pode ser reduzido a operações automatizadas nem se submeter a lógicas tecnocêntricas que ignoram os fundamentos da apuração, da autoria e da responsabilidade pública. A formação em jornalismo deve capacitar docentes e estudantes para compreender e utilizar a IA como ferramenta de apoio, sem abrir mão dos valores inegociáveis da profissão. É necessário desenvolver políticas institucionais claras sobre o uso da IA, produzir materiais pedagógicos e fortalecer a autonomia crítica diante de tecnologias que, ao mesmo tempo que oferecem potencial inovador, impõem riscos à integridade jornalística.

O 15º Encontro Nacional de Coordenadores e Coordenadoras de Cursos de Jornalismo, realizado durante o ENEJor 2025, reuniu cerca de 28 docentes, presencialmente e de forma remota, para discutir pautas estratégicas como a aprovação da PEC do Diploma, o Enade 2025, os planos de qualidade do ensino e os desafios atuais enfrentados pelos cursos. Foi destacada a necessidade de acompanhar as possíveis mudanças no ciclo de avaliação do Inep a partir de 2026, que poderão ser debatidas em audiências públicas no segundo semestre. Também foram discutidos os limites do ensino a distância, os entraves à realização de estágios obrigatórios e as dificuldades regionais relacionadas à curricularização da extensão. Por fim, aprovou-se a sede do próximo encontro, que será realizado em 2026, na cidade de Brasília, pela Universidade de Brasília (UnB).

Aprovada em assembleia no dia 30 de abril de 2025.

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