ABEJ vê problemas na avaliação de curso por área da Cine Brasil

Coordenador do INEP participa de reunião e explica mudanças previstas nas avaliações in loco a partir de 2026
A Associação Brasileira de Ensino de Jornalismo (ABEJ) tem acompanhado os trabalhos da Diretoria de Avaliação da Educação Superior que preveem mudanças nos processos de avaliação in loco de cursos superiores. Segundo divulgado em eventos e audiências públicas, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), ligado ao Ministério da Educação, propõe uma série de alterações a partir de 2026.
O coordenador-geral de avaliação in loco do Inep, Ricardo Fraga Massad, falou sobre o assunto em uma reunião com coordenadores de curso realizada no dia 17 de outubro, durante o 3º Encontro Regional Norte e Centro-Oeste de Ensino de Jornalismo. Ele já havia participado presencialmente de um debate com a diretoria da ABEJ e demais professores de Jornalismo no Encontro Nacional de Ensino de Jornalismo (ENEJor), realizado em abril, em Curitiba.
Dentre as principais mudanças estão a recorrência das avaliações que ocorrerão a cada três anos, os processos de avaliação conjunta por área, o retorno das avaliações presenciais e a incorporação de uma nova dimensão nos instrumentos reconhecendo as especificidades dos cursos.
Acesse o arquivo apresentado por Rodrigo Massad.
Avaliação por área
Massad lembrou que a ABEJ mantém uma postura crítica sobre a Classificação Internacional Normalizada da Educação Adaptada para Cursos de Graduação e Sequenciais de Formação Específica (Cine Brasil). Neste modelo, os cursos de jornalismo serão avaliados em conjunto com cursos com menor afinidade, como Ciências Contábeis, Economia, Ciências Sociais, Antropologia, entre outros, ao invés de Publicidade e Propaganda e Cinema, por exemplo.
Os cursos de Jornalismo estão enquadrados na área de Ciências Sociais, Jornalismo e Informação pela Cine Brasil. Quando aprovada a mudança, em 2018, a ABEJ já havia se manifestado contrariamente. A reclassificação, segundo o Ministério da Educação, atende a uma norma internacional da Organização das Nações Unidas (ONU).
Para a presidenta da ABEJ, Marluce Zacariotti, este é o momento de levar as críticas e as sugestões de melhoria. “Entendemos que as avaliações de cursos precisam ser repensadas, considerando a área de classificação da Cine Brasil. Não é admissível que um curso de Jornalismo seja avaliado juntamente com o de Relações Internacionais e não com um de Publicidade”, defende ela.
De todo modo, pelo que está previsto, as comissões de avaliadores serão compostas por equipes multidisciplinares, que considerarão a área e também as particularidades dos cursos.
Ciclo trienal
As visitas também presenciais ocorrerão a cada três anos, e deverão ser realizadas recorrentemente, independente do curso estar ou não reconhecido, com boa ou má avaliação. Além disso, segundo Massad, o processo avaliativo também será composto de outros dois sistemas: a autoavaliação institucional e o Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade), sendo que os três processos ocorrerão em anos intercalados. Ou seja, um ano para autoavaliação, outro para Enade e outro para avaliação in loco.
Como este ano será realizado o Enade de Jornalismo, a tendência é que em 2026 seja considerada a avaliação in loco e, em 2027, a autoavaliação, fechando o ciclo de avaliação trienal.
“Sabemos que existem cursos que não passam por avaliação há mais de 15 anos. A revisão dos instrumentos de avaliação, prevê mudanças também no sistema eletrônico para se adequar às novas demandas e melhorias no sistema que tem falhas”, reconhece Massad.
Nova dimensão
Com relação às dimensões avaliadas, Massad explica que devem ser mantidas as três atuais (organização didático pedagógica, corpo docente e infraestrutura) e uma nova dimensão deve ser acrescentada. A proposta é que sejam consideradas as particularidades dos cursos e as demandas locais e regionais que podem atender. No Enejor, em abril, Massad ouviu dos professores de Jornalismo que esta era uma questão urgente, tendo em vista que o curso tem características específicas, como os projetos práticos-laboratoriais e estágio.
Segundo o coordenador, a base para a construção destes elementos avaliativos continuará a ser as Diretrizes Curriculares Nacionais. No caso de Jornalismo, a versão vigente, aprovada em 2013, indica uma série de competências que precisam ser cumpridas pelos cursos. Cursos que almejam o conceito 4 ou 5, por exemplo, terão que ter coordenadores e corpo docente formado em Jornalismo.
A ABEJ tem defendido que os processos de avaliação considerem as diretrizes como documento de orientação também nesta nova dimensão. A proposta de revisão dos instrumentos passou por uma consulta pública nos meses de junho e julho deste ano e mais de 4,5 mil contribuições foram registradas, segundo Massad. Uma nova consulta pública deve ser aberta nos próximos dias e qualquer professor ou entidade poderá se manifestar pelo canal do Inep (https://www.gov.br/inep/pt-br/areas-de-atuacao/avaliacao-e-exames-educacionais/avaliacao-in-loco).
Para a presidenta da ABEJ, é preciso avaliar com calma os aspectos que serão considerados em Jornalismo. “Estes critérios precisam reconhecer as particularidades e garantir que de fato os cursos sejam planejados e executados para garantir uma formação qualificada na área”, diz.
Comissão
Na área em que estão enquadrados os cursos de Jornalismo, a elaboração dos instrumentos específicos tem sido sistematizada por 7 membros do Subcolegiado de Ciências Sociais, Jornalismo e Informação. São eles:
- Leandro Raizer (Coordenador) – Sociologia (UFRGS)
- Fabiano Lazarotto Rambo (Coordenador Substituto) – Jornalismo (Horus Faculdades)
- Ana Carolina Cintra Faria – Ciências da Informação, Documentação e Biblioteconomia (Unidesc)
- Carla Andrea Soares de Araújo – Ciências Sociais (Centro Universitário da FEI)
- Davi Baasch – Administração (UFSC e Estácio)
- Marcel Guedes Leite – Economia (PUCSP)
- Margareth Guerra dos Santos – Educação (UFRA)
Massad também garantiu que representantes da ABEJ serão convidados para a formação dos avaliadores e coordenadores do curso em uma atividade em conjunto com o Inep.
Próximos passos
Em dezembro, a comissão do Inep deve publicar a versão final do instrumento e iniciar uma fase de testes, segundo Massad. “Quando a gente tiver uma certa quantidade de avaliações, a gente consegue olhar novamente para o processo para fazer ajustes, se for necessário. A gente não tem uma fórmula fechada. A gente tem um norte. As instituições estão conseguindo cumprir? É o que poderemos ver com as avaliações”, diz.
A promessa também é que a avaliação in loco não seja punitiva, mas que contribua para a melhoria dos cursos e que os candidatos saibam exatamente o que esperar quando fizerem a matrícula. “É preciso considerar o quantitativo de corpo docente, o aumento das atividades com a curricularização da extensão e outras obrigações, no contexto de déficit de professores. O instrumento pretende captar a organização didático pedagógica, quem faz, quem vai ministrar a extensão, a pesquisa e ensino, e verificar se a carga horária é compatível. Onde é feito? Laboratórios, sala de aula e outros ambientes. No instrumento, agora, a gente amplia (a avaliação) porque sabe que nem tudo é feito em sala de aula, principalmente vocês (de jornalismo), porque a gente sabe que estarão no ambiente da prática. Tudo isso o instrumento pretende captar”, ressalva Massad.
Reunião com a DAES

No mês de setembro, a ABEJ também foi representada pela presidenta Marluce Zacariotti e pela diretora regional centro-oeste Dione Moura na reunião com a Diretoria de Avaliação do Ensino Superior (DAES), no INEP, em Brasília. A pauta, discutida como Rogério Dantello, diretor da DAES, e com o servidor da coordenação de fluxo avaliativo, Carlos José Pinheiro Teixeira, foi a parceria da associação no processo de construção do novo documento de avaliação de cursos.
Zacariotti salientou a importância do diálogo com coordenadores de cursos e NDEs em todas as regiões. Outra questão pontuada por ela foi sobre a necessidade de pensar especificidades. “É preciso observar as assimetrias regionais, a relação entre o investimento disponibilizado para as instituições, o que se exige nos critérios como infraestrutura, por exemplo, e as especificidades ambientais, sociais, econômicas de cada curso. Não é possível falar em avaliação homogeneizada para situações tão díspares”, afirmou. Na ocasião, ela também questionou a avaliação conjunta por área a partir da Cine Brasil.
Já o diretor da DAES destacou que o processo avaliativo não tem caráter punitivo e ressaltou uma mudança de perspectiva, que “terá abordagem mais participativa, democrática e menos rígida quanto a imposições”.



Respostas