“A educomunicação permite ter um pensamento crítico e contribui para formar uma cidadania ativa e participativa na sociedade”
Por Lucas Lourenço
Com mais de 30 anos de experiência no ensino de Radiojornalismo, a professora associada e pesquisadora da Universidad Católica del Norte (Chile), Dra. Heleny Méndiz Rojas, será destaque no Encontro Nacional de Ensino de Jornalismo (Enejor) da Abej, com a conferência de abertura sobre “Jornalismo e Educação Midiática: perspectivas para o empoderamento da cidadania”, no dia 24/4. Referência em educomunicação e alfabetização midiática, Méndiz realizou estudos de pós-doutorado na Universidad de Huelva e doutorado Interuniversitário em Comunicação pelas Universidades de Huelva, Cádiz, Sevilla y Málaga, na Espanha. Suas pesquisas abordam os temas rádio e saúde. Nesta entrevista à agência Impressões, concedida em espanhol, em tradução livre, a coordenadora das pesquisas da Rede Iberoamericana de Alfabetización Mediática, ALFAMED, no Chile, explica a importância da educomunicação, aponta os desafios para a inserção da educação midiática em sala de aula e ressalta o potencial educativo do podcast no contexto escolar.
A senhora é uma estudiosa da educomunicação. Qual é a importância dessa área, que une comunicação e educação, para a formação de cidadãos críticos e conscientes de seus direitos?
Para a Unesco, a educomunicação é um campo teórico-prático que propõe a educação nos meios de comunicação, o uso dos meios na educação, a produção de conteúdo educativo, a gestão democrática dos meios de comunicação e esses conhecimentos aplicados à prática. Porém, como sociedade, o avanço tecnológico nos levou a estarmos conectados de maneira vertiginosa grande parte do dia à Internet, seja pelo WhatsApp, Instagram, Twitter, Facebook ou Tiktok, onde qualquer de nós pode ser criador e produtor de informação e dos meios de comunicação. Hoje os/as cidadãos/cidadãs estão produzindo conteúdos, implicando em sua geração e os difundindo, adquirindo novas competências de escrita midiática e, por isso, considero que, mediante o aprender a fazer, estamos adquirindo com mais facilidade o sentido de leitura crítica. Acredito que aí reside a importância de aprender sobre educomunicação, alfabetização midiática ou media literacy. A educomunicação permite ter um pensamento crítico e contribui para formar uma cidadania ativa e participativa na sociedade.
Quais são os principais desafios para a inserção da educação midiática em sala de aula?
Neste sentido, a educação da competência midiática em sala de aula é essencial. Os sistemas de comunicação e o fluxo de informação são elementos cada vez mais vitais, presentes em todos os níveis que compõem nossa sociedade e em todas as faixas etárias. A contradição se dá pela sua presença limitada em sala de aula, onde as características e qualidades da mídia em termos de educação foram ignoradas e distorcidas. Considero que o principal desafio é superar a visão instrumental dada às TICs (Tecnologias da Informação e Comunicação). Um segundo desafio estaria relacionado a um aspecto cultural, pois a educomunicação permite ao aluno desenvolver a autonomia e autogestão do conhecimento e infelizmente não estamos acostumados a isso. São muitos, mas um terceiro desafio é incorporar a educomunicação não apenas ao currículo escolar, mas também na formação de comunicadores e educadores em nível universitário.
Durante seu período de pesquisa na Universidad de Huelva (UHU), na Espanha, um de seus objetivos foi fortalecer a educomunicação. Você atingiu esse objetivo?
Claro, não só em relação a minha formação “formal” no doutorado, que me permitiu pesquisar sobre a “Eficacia das ‘pílulas radiofônicas’ no contexto escolar como método para a mudança de atitudes alimentares”. Eram mensagens criadas por crianças para crianças, transmitidas dentro de uma programação musical, durante o recreio. Os alunos geraram conteúdo sobre sua preocupação relacionada à alimentação e houve maior conscientização sobre o tema. Por outro lado, interagir com grandes referências da educomunicação, como Joan Ferres, Guillermo Orozco, José Manuel Pérez Tornero, Ismar de Oliveira, Carmen Marta Lazo, Ignacio Aguaded, para citar alguns, e também compartilhar com toda a nova geração de educomunicadores que está se formando no doutorado, gente sintonizada com o que você faz, não tem preço.
Como a universidade e o ensino de jornalismo podem contribuir para fortalecer a educomunicação?
Primeiro, a universidade devecompreender a relevância da educomunicação na atualidade e incorporá-la em seus processos formativos. Ações como o 23º Encontro Nacional de Ensino de Jornalismo (ENEJOR), da Associação Brasileira de Ensino de Jornalismo (Abej), cujo tema é “Jornalismo e Educação Midiática: perspectivas para o empoderamento da cidadania”, fazem parte do caminho de fortalecimento da educomunicação
Qual é o potencial do rádio e do podcast para o desenvolvimento de competências educativas e comunicacionais nos estudantes?
O potencial que o rádio representa hoje, por meio da criação de podcasts, oferece a docentes e estudantes uma oportunidademetodológica de caráter participativo que pode ser utilizada como uma ferramenta para que os/as alunos/as se expressem livremente, desenvolvendo competências e promovendo a criatividade nas produções realizadas, integrando transversalmente os conteúdos curriculares trabalhados nas disciplinas. O podcast é um áudio publicado em formato digital na Internet e que oferece aosusuários qualquer tipo de conteúdo sonoro, que pode ser reproduzido em tempo e espaço indeterminados, dando a possibilidade de ouvir repetidamente, pausar e voltar. Esse tipo de atividade em sala de aula também incentiva a aprendizagem colaborativa e cooperativa dos participantes. O rádio, como meio, pode ser incluído em qualquer projeto educativo, pois permite trabalhar não só a oralidade, mas também se torna uma ferramenta para gerar dinâmicas criativas e lúdicas em sala de aula.
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