Balanço das Reuniões de Coordenadores nos Erejor 2024: Diagnóstico e Caminhos para o Ensino de Jornalismo no Brasil

Por Ana Paula Virgulino (Supervisão de Gabriela Marques) 

Em 2024, os Encontros Regionais de Ensino de Jornalismo (Erejor) reuniram coordenadores de cursos de todo o Brasil para debater os principais desafios, avanços e perspectivas da formação em Jornalismo. Organizados pela Associação Brasileira de Ensino de Jornalismo (ABEJ), os encontros ocorreram de forma virtual e proporcionaram discussões ricas sobre temas como evasão, estágio curricular, curricularização da extensão e o impacto das transformações tecnológicas na prática jornalística.

O balanço dessas reuniões revela um panorama diverso e desafiador, mas também aponta para iniciativas promissoras que podem transformar o ensino da área. A seguir, apresentamos os destaques de cada Erejor:

Erejor Sul: Reflexões sobre Formação e Sustentabilidade Acadêmica

Realizado pela Universidade Regional de Blumenau (FURB), o VII Erejor Sul reuniu coordenadores dos estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Durante o encontro, temas como a evasão acadêmica e a dificuldade dos estudantes em equilibrar estágios obrigatórios e necessidades financeiras foram amplamente debatidos.

Ralph Willians de Camargo, do Centro Universitário FAG, destacou a realidade enfrentada por muitos alunos: “Os estudantes têm medo de abandonar estágios não obrigatórios, que são sua principal fonte de renda, para cumprir as exigências curriculares. Isso compromete a formação e, em alguns casos, leva à evasão.”

A desmotivação dos estudantes também foi associada a mudanças no perfil discente e às transformações do mercado. Elisa Roseira, da Unicentro (PR), apontou que a pandemia agravou problemas emocionais e gerou desinteresse por disciplinas tradicionais.

Já Guilherme Carvalho, da Uninter, reforçou a importância de fortalecer a ABEJ como espaço de articulação para enfrentar esses desafios: “Nossa revista, a REBEJ, é a única publicação brasileira dedicada ao ensino de Jornalismo. Precisamos valorizá-la para dar mais visibilidade às nossas discussões.”

Outro tema central foi a curricularização da extensão. Instituições como a UFPEL e a FURB mostraram avanços na incorporação dessa prática, mas enfrentam desafios como a sobrecarga docente e a burocracia.

Erejor Nordeste: Preenchimento de Vagas e Desafios do Mercado

No Nordeste, a reunião foi organizada pela Universidade Federal do Piauí (UFPI) e contou com a presença de coordenadores de instituições da região. Marluce Zacariotti, presidente da ABEJ, destacou que a baixa procura pelos cursos de Jornalismo é um problema estrutural.

Isael de Sousa Pereira, das Faculdades R.Sá, relatou que o curso em Picos (PI) precisou abandonar o modelo de bloco fechado devido à redução na demanda: “Oferecemos disciplinas avulsas porque não conseguimos mais formar turmas completas.”

Na Universidade Federal de Sergipe (UFSE), Michele Tavares revelou que o curso enfrenta dificuldades similares: “O Jornalismo raramente é a primeira opção dos alunos no SISU e isso reflete em desinteresse e evasão.”

A precarização dos estágios também foi mencionada como um problema recorrente. Muitos alunos trabalham em condições que não contribuem para sua formação prática, como relatado por Emilson Garcia, da UNINASSAU, e outros participantes.

Erejor Centro-Oeste: A Extensão como Desafio e Oportunidade

O II Erejor Centro-Oeste, conduzido pela UNEMAT, teve como foco principal a curricularização da extensão e os estágios supervisionados. Valquíria Guimarães, diretora regional da ABEJ, destacou que a sobrecarga docente e a falta de clareza nas diretrizes tornam difícil a implementação: “A extensão exige projetos de longo prazo e maior número de docentes, mas as instituições não oferecem estrutura suficiente.”

Sabrina Morais, da PUC Goiás, relatou os avanços do curso na integração da extensão ao currículo, incorporando-a em cinco disciplinas específicas. No entanto, ela também apontou para o impacto da redução de matrículas: “Pela primeira vez, sobram vagas de estágio por falta de alunos para preenchê-las.”

A necessidade de equilibrar demandas acadêmicas e práticas de mercado foi um ponto recorrente. Solange Franco, da UFG, ressaltou: “Os alunos têm pressa de entrar no mercado, mas isso acaba prejudicando seu envolvimento em projetos de pesquisa e extensão.”

Erejor Norte: Realidades Distintas e a Força da Extensão Comunitária

No Norte, o encontro destacou a realidade desigual entre cursos de capitais e do interior. Hans Costa, da UNAMA, enfatizou a importância de atividades práticas que conectem os alunos às comunidades locais: “Precisamos valorizar o papel do Jornalismo na sociedade, promovendo intervenções que façam sentido para as comunidades.”

A evasão e a precarização do mercado também foram abordadas. Roberta Scheibe, da UNIFAP, relatou a falta de docentes e as dificuldades para reter alunos: “Com apenas quatro professores efetivos e um substituto, enfrentamos sobrecarga e altos índices de evasão.”

Roseméri Laurindo, da FURB, sugeriu mapear os “desertos de comunicação” para compreender melhor as desigualdades entre cursos públicos e privados, bem como entre capitais e cidades do interior.

Conclusões e Perspectivas

As reuniões regionais deixaram evidente que, embora os cursos de Jornalismo enfrentem desafios estruturais e mercadológicos, há também oportunidades para inovações curriculares e integração comunitária. Os debates iniciados nos Erejor serão aprofundados no Encontro Nacional de Ensino de Jornalismo (Enejor), que ocorrerá em abril de 2025, em Curitiba, com o tema central: “Ensino de Jornalismo nas reconfigurações do ecossistema midiático: desafios e possibilidades”.

Iniciativas como a valorização da extensão, o fortalecimento da assistência estudantil e a ampliação do diálogo entre instituições e regiões são fundamentais para superar as adversidades e construir um ensino de Jornalismo mais inclusivo e conectado às demandas da sociedade contemporânea.

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