por Da Redação

Por Guto RochaAssessoria de ImprensaMach ComunicaçãoA disciplina de ética deveria ser o eixo de sustentação da formação dos jornalistas nas universidades brasileiras. Esta foi uma das principais conclusões do grupo de trabalho “Formação Ética nas Escolas de Jornalismo do Brasil”, durante o 1º Seminário Nacional de Ética no Jornalismo, encerrado no sábado, 1 de abril, em Londrina. O presidente do Fórum Nacional dos Professores de Jornalismo, Gerson Martins, apresentou um panorama dos cursos de Jornalismo e do ensino da ética no País. Segundo a FENAJ, o país tem hoje 368 cursos de jornalismo. Martins alertou que esses cursos enfrentam problemas que comprometem a qualidade do ensino. “Houve um nivelamento por baixo, as bibliotecas e os equipamentos estão defasados e muitas escolas demitiram os professores titulados”, comentou. No caso específico da disciplina de ética, Gerson afirmou que as escolas, em sua grande maioria, recrutam os professores de forma aleatória e marginalizam a disciplina dentro da grade curricular. Outro problema apontado por Martins é o fato de que a maioria dos professores de ética não tem vínculo com a profissão de jornalista e nem com a categoria.O professor Rogério Christofoletti, doutor em Ciências da Comunicação e professor de Legislação e Ética em Jornalismo da Universidade do Vale do Itajaí (SC), é da opinião que os cursos não têm sido eficazes na formação ética de jornalistas. “Os constantes deslizes da imprensa é um reflexo dessa má formação”, comentou. Ele afirmou também que as escolas não têm clareza sobre quando e como oferecer a disciplina. “É uma disciplina acessória na maioria dos cursos de jornalismo”, disse. Outra crítica é o fato de a ética não fazer parte da pesquisa científica no país. “Dos 19 núcleos de pesquisa do Intercon, por exemplo, nenhum grupo é voltado para a ética no jornalismo”, comentou. Rogério Christofoletti apresentou 10 propostas para a melhoria do ensino de Ética nos cursos de jornalismo que foram aprovadas pelos participantes do grupo de trabalho. (Leia propostas relacionadas abaixo)Outro apresentador do grupo de trabalho foi o professor do curso de Comunicação Social em Londrina e em Maringá, Celso Mattos. Ele também concordou com o fato de que a disciplina de ética é tratada sem a devida importância na maioria dos cursos. “Se um curso de jornalismo não valoriza a ética, como os empresários dos veículos de comunicação poderão dar importância?”, comentou. Mattos disse que adotou alguns procedimentos para envolver e despertar o interesse de seus alunos para a disciplina de ética como por exemplo analisar casos práticos da imprensa e utilizar filmes que tratam de questões ligadas ao assunto. Segundo ele, essa metodologia tem surtido efeito. “No ano passado orientei três trabalhos e este ano já são cinco teses de conclusão de curso que têm a ética como tema”, afirmou. Após a apresentação, alguns participantes do grupo de trabalho fizeram comentário e propostas sobre o ensino da ética. O professor Francisco Karan, autor de livros sobre ética, elogiou a apresentação dos componentes da mesa e disse que é preciso encontrar um equilíbrio sobre o que ensinar nos cursos. “O tema é muito amplo, poderia ser levar anos para concluir um curso completo sobre ética”, comentou.O jornalista Ayoub Hanna Ayoub sugeriu a criação de um fórum permanente para discussão do ensino de ética nos cursos de jornalismo. De seu lado, os estudantes reclamaram da necessidade de regulamentação do estágio, compromisso assumido pela jornalista Valci Zuculoto, do Departamento de Relações Institucionais da FENAJ. “O estágio deve ser feito para complementar da formação do jornalista. Mas ele não pode ser oportunidade para a exploração de mão-de-obra. A regulamentação do estágio deve acontecer durante o Congresso Nacional de Jornalismo, em julho, em Ouro Preto”, garantiu a dirigente sindical. O professor da UNIVALI de Santa Catarina, Dr. Rogério Christofoletti apresentou dez propostas para o Ensino de Ética Jornalística no Brasil que serão encaminhadas para o Fórum Nacional de Professores de Jornalismo e servirão de base para compor a proposta de criação de um Grupo de Trabalho sobre Formação em Ética Jornalística. 1. A disciplina e os conteúdos de Ética Jornalística devem compor o eixo de sustentação do curso de Jornalismo e não mera disciplina acessória. É necessário assumir a centralidade do debate sobre a conduta profissional na formação de novos jornalistas. Os conteúdos podem ser transversais, conforme prevêem as Diretrizes Curriculares do Ministério da Educação, mas é imprescindível que disciplinas específicas de 4 ou mais créditos sejam oferecidas nos cursos de Jornalismo.2. Defendo a oferta de 8 créditos obrigatórios de conteúdos que tratem de ética, legislação e encaminhamento ao mercado de trabalho. Metade desta carga deve ser ministrada já no início do curso, nos primeiros semestres. Embora se conte com turmas ainda muito imaturas para esse debate e com visão bastante romântica da profissão, a oferta ajuda a formar profissionais com atenção para a ética desde o princípio. No final do curso, outros quatro créditos deveriam ser oferecidos com ênfase na legislação do setor e no encaminhamento ao mercado (obtenção de registro profissional, sindicalização e sentido de classe/corporação, etc.). Como se trata de eleger a Ética Jornalística como eixo do curso, outras disciplinas colaterais optativas deveriam ser ofertadas, como Comunicação Comparada, Crítica de Mídia e Tópicos Avançados em Deontologia.3. Para lecionar a disciplina, o professor deve ter formação e experiência em Jornalismo, condições que o habilitam e o capacitam não apenas à transmissão dos conteúdos mas também à condução de debates que reflitam a condição jornalística.4. Os conteúdos da disciplina não podem ser abstratos, etéreos, distantes do cotidiano dos jornalistas, mas deve refleti-los. Fundamentos de ética geral auxiliam, mas não devem se constituir a maior parte dos conteúdos. A disciplina deve auxiliar a compreender a complexa condição do jornalista em seu cotidiano de ação.5. A disciplina não deve “ensinar ética”, mas motivar os alunos a refletirem eticamente, mobilizarem valores para a avaliação de condutas de jornalistas em situações factíveis. Neste sentido, a disciplina não é teórica, mas instrumental, reflexiva.6. A condução da disciplina pelos professores não deve se pautar por uma postura moralista, prescritiva, como se todas as verdades residissem na academia. As exposições e debates devem levar em consideração também as experiências do mercado, os argumentos dos envolvidos, entre outros detalhes que auxiliem mais amplamente as circunstâncias.7. A disciplina precisa estar vinculada a pesquisas para gerar novos conteúdos, de maneira a se retroalimentar. Atualmente, o cadastro de grupos de pesquisa do CNPq registra 9 menções a grupos que tratam de ética e jornalismo e 29 de ética e comunicação.8. Professores e profissionais precisam gerar mais massa crítica na área, publicando livros e artigos em periódicos. Cresceu o lançamento de títulos sobre ética jornalística nos últimos 20 anos, ocupando o espaço de livros sobre a legislação do setor. De 1985 para cá, foram lançados pelo menos …. títulos no mercado nacional.9. É preciso criar um fórum permanente de discussões sobre ética nos cursos, seja através de eventos, do encontro com profissionais, de debates nos sites e publicações internas ou em atividades laboratoriais.10. A discussão sobre a ética nos meios de comunicação não pode ficar restrita aos cursos universitários e às redações jornalísticas. É necessário criar mecanismos de aproximação do público em geral, motivando a reflexão, a discussão e a leitura crítica da mídia.

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