por Da Redação

A Reitora Maria Yara Campos Matos da UFPB realizou a entrega solene do título de Doutor Honoris Causa ao Professor José Marques de Melo, em João Pessoa, PB. O evento aconteceu na sala do conselho universitário, na noite de 25 de fevereiro de 2005. A Reitora declarou que a Universidade Federal da Paraíba -UFPB sentia-se honrada em prestar aquela homenagem no marco comemorativo dos 50 anos da instituição.

Ele disse textualmente: “Professor Doutor José Marques de Melo: nós que fazemos a Universidade Federal da Paraíba, nos sentimos muito honrados em tê-lo, a partir de hoje, fazendo parte de nossa Instituição. E esta ocasião se reveste de maior importância porque este é o ano do cinqüentenário de nossa Universidade: cinqüenta anos construindo uma história que se pauta pela busca da excelência acadêmico-científica, e sua história, professor, só vem enriquecê-la”.

Dentre as personalidades que recentemente mereceram igual honraria da UFPB destacam-se o escritor brasileiro Ariano Suassuna e o sociólogo francês Edgar Morin.

A outorga do título honorífico ao Professor Marques de Melo foi aprovada por unanimidade pelo Conselho Universitária da instituição, em sessão de 29 de março de 2004, mediante proposta endossada pelo Departamento de Comunicação Social, de autoria dos professores Moacir Pereira e Wellington Pereira.

Em sua justificativa, os autores realçaram, entre outros méritos, “a qualidade do seu trabalho como pesquisador e professor de Comunicação Social na América Latina, tendo sua obra reconhecida internacional e nacionalmente, contribuindo para a manutenção do status científico da área de Comunicação Social”.

Ato solene

A sessão especial do Conselho Universitário da UFPB convocada para a entrega do título contou com a presença de representantes do Governador do Estado da Paraíba e do Prefeito da Cidade de João, bem como de entidades corporativas, reunindo uma centena de intelectuais, profissionais e estudantes.

A apresentação do homenageado foi feita pelo professor Moacir Barbosa, que resgatou sua história de vida, destacando aspectos da trajetória universitária. Ele esclareceu que apesar de ter consolidado sua carreira acadêmica no sudeste do país, mais precisamente na Universidade de São Paulo, sempre guardou um olhar de incentivo para a construção dos programas de pós-graduação no Nordeste, região onde nasceu e se manteve ligado à pesquisa principalmente no âmbito da Folkcomunicação.

Por sua vez, coube ao professor Wellington Pereira realizar o balanço crítico da obra do professor Marques de Melo. Além de mencionar sua amplitude temática e sua constante sintonia com o pensamento comunicacional contemporâneo, especialmente a Escola Latinoamericana de Comunicação, ele destacou sua fidelidade às raízes nordestinas, mantendo permanente diálogo com autores paradigmáticos como Gilberto Freyre, Paulo Freire, Celso Furtado, Josué de Castro e Luiz Beltrão.

Em seu discurso de encerramento, a Reitora Maria Yara Campos Matos arrematou: “Neste ato enfatizamos a importância da distinção porque cada procedimento realizado nesta noite teve o objetivo de lembrar e registrar o que não pode nem deve ser esquecido: a contribuição inestimável do professor, jornalista e escritor José Marques de Melo prestada à educação e à sociedade brasileira. Este ritual registra uma história, lembra um passado de trabalho profícuo que deixou raízes profundas e extensas; e esse passado é indestrutível porque fez parte da textura de vida do agraciado e de todos aqueles que com ele conviveram ou aprenderam”

Desafios do jornalismo

Em sua oração de agradecimento o Professor Marques de Melo revelou-se comovido, principalmente por ser um desterrado nordestino, generosamente acolhido por São Paulo, quando foi obrigado, como tantos “paus-de-arara”, a se refugiar no sudeste brasileiro, no seu caso em busca de melhores oportunidades intelectuais, tendo em vista a perseguição que os “donos do poder” empreenderam contra todos aqueles que não rezassem pela cartilha da “doutrina de segurança nacional”, instituída pelo regime militar pós-1964.

Em seguida, dirigiu-se particularmente às novas gerações de professores e estudantes de jornalismo, concitando-os a corresponder aos desafios cruciais que a conjuntura emergente coloca perante a profissão e a sociedade.

Enfatizou o impasse histórico vivenciado pelo jornalismo brasileiro, qual seja a pequena expansão do público leitor de jornais e revistas, em face do pauperismo econômico e da carência educacional que vitima a maioria da população nacional. Cabe aos vastos contingentes da sociedade brasileira – argumentou – matar sua fome cotidiana de informações através da mídia eletrônica, principalmente o rádio e a televisão, veículos que são obrigados a nivelar seus conteúdos de acordo com patamares cognitivos situados quase ao rés-do-chão para poder garantir sua sobrevivência econômica.

Lamentou, a seguir, o descompasso existente entre as demandas do mercado e as estratégias universitárias. “É justamente aí que reside um dos impasses colossais das nossas escolas de comunicação, particularmente dos seus cursos de jornalismo. Pois eles privilegiam de modo ostensivo programas de ensino ancorados exclusivamente no referencial da cultura erudita, desdenhando, quando não desprezando, o universo popular. A ênfase da produção de mensagens na maioria das nossas instituições permanece estacionária na mídia gutenbergiana, quando nada extrapolando para as formas de expressão escrita disseminadas pela internet.”

E fez uma conclamação aos jovens. “Gostaria de desafiar a nova geração dos estudiosos do jornalismo da nossa região, no sentido de buscar alternativas pedagógicas que correspondam às aspirações dos contingentes de famintos de cultura e de informação, nutrientes fundamentais para convertê-los em cidadãos ativos e participantes. Do contrário eles permanecerão alvo fácil das manipulações dos populistas de todos os matizes, hábeis no uso da mídia audiovisual.”

Finalizando, destacou a sua preocupação em relação às investidas perpetradas por segmentos do poder nacional no tocante ao instituto da liberdade de expressão e pensamento, cuja proteção foi institucionalizada pela carta constitucional de 1988. “Temos presenciado, contudo, tentativas esboçadas por agentes do poder executivo ou do judiciário no sentido de minar o edifício que sustenta a liberdade de imprensa. Artifícios ostensivos ou dissimulados começam a despontar em cadeia, resultando em atos que restringem ou inibem o desempenho profissional dos jornalistas. Se não houver uma constante vigilância da sociedade corremos o perigo de retrocesso.”

Perfil intelectual

José Marques de Melo é jornalista, professor universitário, pesquisador científico e consultor acadêmico.

Iniciou-se no jornalismo aos 15 anos de idade, mas preferiu seguir a carreira acadêmica, tendo sido o primeiro Doutor em Jornalismo diplomado em universidades brasileiras. Integrou a equipe fundadora da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paula, da qual esteve afastada durante a segunda metade dos anos 70, perseguido pela ditadura militar. Com a anistia política de 1979 retornou à instituição, onde completou sua carreira universitária, tendo sido eleito pela comunidade acadêmica para a mais elevada posição hierárquica, ou seja, o cargo de Diretor, quando se aposentou no serviço público. Desde então, integra a equipe acadêmica da Universidade Metodista de São Paulo, onde coordenou o programa de pó-graduação em comunicação social, dirigiu a faculdade de ciências da comunicação e da cultura e atualmente lidera a Cátedra Unesco de Comunicação para o Desenvolvimento Regional.

Tem uma vasta e diversificada produção bibliográfica, sendo autor de duas dezenas de livros e mais de duas centenas de artigos em periódicos científicos do país e do exterior. Suas obras mais recentes são: Jornalismo Brasileiro (Sulina, 2003), A esfinge midiática (Paulus, 2004) e Midiologia para iniciantes (Educs, 2005).

Informações mais detalhadas da sua trajetória intelectual podem ser encontradas na Plataforma Lattes do CNPq ou no cibermemorial: www.marquesdemelo.com.br.

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