ENEJor reúne mais de 30 instituições em três dias de debates

Evento sediado pela PUCPR, em Curitiba, consolida a associação em mais de 20 anos de existência

Com 181 inscritos e 90 trabalhos apresentados, o 24º Encontro Nacional de Ensino de Jornalismo (ENEJor) encerrou na última quarta-feira com mais de 30 instituições representadas de todo o país. Realizado na Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), em Curitiba, os três dias de evento foram marcados por debates sobre aspectos que envolvem a qualidade do ensino de jornalismo. As atividades ocorreram de forma híbrida, garantindo a participação presencial e remota em praticamente todas as atividades. Além das apresentações de trabalho em 6 grupos no 20º Ciclo Nacional de Pesquisa em Ensino e Extensão em Jornalismo, foram realizadas 5 mesas de debate (incluindo o 20º Pré-Fórum da Fenaj), 1 conferência e 9 oficinas. A programação também contou com a 15º Reunião Nacional de Coordenadores e Coordenadoras de Cursos de Jornalismo e assembleia dos associados.

A presidenta da ABEJ Marluce Zacariotti disse que o encontro marca a consolidação da ABEJ como entidade fundamental no campo acadêmico do Jornalismo. “Nós atingimos um outro patamar, fruto do trabalho de dirigentes, ex-dirigentes, professores e estudantes que fizeram desta associação um marco na luta pela qualidade da formação na área nestes mais de 20 anos de existência”, disse.  Na noite de lançamento de livros, realizada no dia 29, exibiu-se um minidocumentário com depoimentos de pessoas que participaram de momentos históricos da ABEJ.

A coordenadora local do evento e vice-presidenta da ABEJ Suyanne Tolentino destacou o empenho da equipe de professores, estudantes e técnicos que ajudaram na realização do encontro. “Tivemos grandes desafios para a realização deste evento”, disse. Há uma semana do início, um incêndio de grandes proporções atingiu um dos blocos do campus da PUCPR onde parte do evento seria realizado. “Apesar disso, não medimos esforços para que tudo corresse da melhor maneira possível. Eu estou muito orgulhosa de tudo que foi feito aqui nestes dias”.

Debates

João Canavilhas | Crédito: Marina Marciniak

Na conferência de abertura, João Canvilhas, professor da Universidade da Beira Interior (UBI), em Portugal, abordou as mudanças tecnológicas recentes e os impactos sobre a atividade profissional e, consequentemente, sobre o ensino do jornalismo. Ele reforçou a importância do jornalismo em tempos de incertezas, citando exemplos como na pandemia e no apagão que ocorreu em Portugal. “No fundo, quando as pessoas se sentem (como nós dizemos em Portugal) apertadas sabem onde é que tem que procurar informação”, referindo-se aos jornais como fontes mais seguras do que as redes sociais. Com relação ao ensino de Jornalismo, ele aponta três desafios primordiais: o retorno aos valores tradicionais da profissão, o domínio tecnológico e compreensão das dinâmicas sociais mobilizadas por redes na internet e, por fim, o desenvolvimento da formação pessoal por meio da autonomia e da criatividade.

Na primeira mesa do dia 29, o coordenador-geral de Avaliação In Loco da INEP, Rodrigo Massad apresentou novidades que podem aparecer nos processos futuros para reconhecimento de cursos de graduação. Dentre elas, instrumentos mais rigorosos que reconhecem as práticas laboratoriais. Neste mesmo momento, também foram ouvidos a professora Roseméri Laurindo (FURB) e Marcelo Bronosky (UEPG). Ela abordou a prática do estágio como um processo que exige maior rigor por parte dos processos avaliativos e ele tratou das especificidades das práticas laboratorias do jornalismo. No debate, mediado por Guilherme Carvalho (Uninter/UEPG), os participantes sobraram maior rigor do INEP nos processos avaliativos e o reconhecimento das especificidades da formação na área. Segundo Massad, o INEP pretende realizar audiências públicas a partir do segundo semestre para ouvir as entidades com vistas a aprimorar as avaliações.

Crédito: João Pimentel/Lente Quente

Na mesa seguinte, o tema “Ensino de fotojornalismo: pedagogia, gênero, memória e convergência”, Heloisa Nichele (UFPR) e Rafael Schoenherr (UEPG) foram os debatedores. A mediação ficou por conta de Agda Aquino (UFPB) e Lisbeth Oliveira (UFG). Elas trataram da importância do reconhecimento da disciplina de fotojornalismo no processo formativo dos jornalistas.

No dia 30, outras duas mesas foram realizadas. Na primeira, Naiana Rodrigues da Silva (coordenadora da RETIJ), Felipe Simão Pontes (UEPG/SBPJor) e Aline Rios (SindjorPR) trataram das relações entre universidade e mercado profissional. A mediação foi realizada por Lenise Klenk (PUCPR) que conduziu o bate-papo, destacando os desafios para os professores da área. Pontes abriu as apresentações abordando um texto de Robert Park a respeito do jornalismo como forma de conhecimento, ligando às dificuldades da área em um ambiente mais hostil para o jornalismo de qualidade. Rodrigues trouxe dados de pesquisas que apontam as condições atuais do trabalho jornalístico com impactos sobre a identidade profissional. Segundo ela, o trabalho jornalístico vem sendo desafiado por grandes empresas de tecnologia que impõem crises também à democracia. Por fim, Rios trouxe relatos sobre a precariedade das condições de trabalho de jornalistas e quais questões devem ser abordadas em aulas de graduação para que os novos profissionais não percam referências importantes para garantir a qualidade do trabalho.

A mesa seguinte reuniu Claudia Quadros (UFPR), Márcio Carneiro dos Santos (UFMA) e Moreno Osório (PUCRS), sob o tema “Uso da IA no ensino de jornalismo: potencialidades e valores inegociáveis“. Rodolfo Stancki (PUCPR) foi responsável pela mediação. Quadros trouxe um relato sobre pesquisas que vêm sendo realizadas por seu grupo de pesquisa, apontando a importância das mudanças profissionais no jornalismo como resultado da introdução de tecnologias como a inteligência artificial. Ela entende que é fundamental compreender como os algoritmos de redes sociais e de IA funcionam para que sejam garantidos “valores inegociáveis”. Ela citou a curadoria como um papel fundamental dos jornalistas. Santos fez uma abordagem mais aplicada sobre IA, reforçando a importância de se compreender como operar estes sistemas. Um dos grandes problemas, segundo ele, é que muitos ainda não compreenderam como utilizar a IA de forma adequada e, nesse sentido, deve-se ter em mente que as bases de dados são limitadas. Por fim, Osório trouxe experiências jornalísticas no uso de IA, destacando a centralidade dos seres humanos no processo de mediação em um ambiente bombardeado por informação e desinformação.

O 15º Encontro Nacional de Coordenadores e Coordenadoras de Cursos de Jornalismo, realizado no dia 29, reuniu 28 docentes, presencialmente e de forma remota, para discutir pautas estratégicas como a aprovação da PEC do Diploma, o Enade 2025, os planos de qualidade do ensino e os desafios atuais enfrentados pelos cursos. Foi destacada a necessidade de acompanhar as possíveis mudanças no ciclo de avaliação do Inep a partir de 2026, que poderão ser debatidas em audiências públicas no segundo semestre. Também foram discutidos os limites do ensino a distância, os entraves à realização de estágios obrigatórios e as dificuldades regionais relacionadas à curricularização da extensão. O relatório da reunião subsidiou a Carta de Curitiba, aprovada em assembleia, no dia 30, que também aprovou a sede do próximo encontro, que ocorrerá em Brasília, sediado pela UnB.

Premiações

Valci Regina Mousquer Zuculoto (UFSC) recebeu o Prêmio ABEJ – personalidade do ensino de Jornalismo. O troféu foi entregue no dia 29 de abril. Ela foi escolhida após votação por maioria dos associados, concorrendo com outros indicados. Foram reconhecidos também os melhores trabalhos em cada uma dos Grupos de Pesquisa e de Trabalho do 20º Ciclo Nacional de Pesquisa em Ensino e Extensão em Jornalismo. Seis trabalhos receberam menção honrosa pela qualidade na produção. Segue a relação dos vencedores:

GRUPO DE PESQUISA ATIVIDADES DE EXTENSÃO
CURRICULARIZAÇÃO DA EXTENSÃO: A (DES)ANIMADORA EXPERIÊNCIA DO CURSO DE JORNALISMO
Sandra de Deus, Nilton José Rocha

GRUPO DE PESQUISA ENSINO DE ÉTICA E DE TEORIAS DO JORNALISMO
VIOLÊNCIA NO JORNALISMO: ATAQUES À CREDIBILIDADE E AUTORIDADE DA CLASSE JORNALÍSTICA
Catharina Iavorski, Felipe Simão Pontes

GRUPO DE PESQUISA CIENTÍFICA 
ENTRAVES NA PESQUISA APLICADA EM JORNALISMO: DESAFIOS DO FINANCIAMENTO DE PROJETOS NAS UNIVERSIDADES BRASILEIRAS
Alanna Della Possa Contador, Guilherme Carvalho, Alexsandro Ribeiro

GRUPO DE PESQUISA PROJETOS PEDAGÓGICOS E METODOLOGIAS DE ENSINO
ANÁLISE DAS GRADES CURRICULARES DO CURSO DE JORNALISMO DA ECA-USP: ANOS INICIAIS (1967-1972)
João Pedro Malar, Bruno Militão Garcia

GRUPO DE PESQUISA PRODUÇÃO LABORATORIAL – ELETRÔNICOS E IMPRESSOS
CAMPUS MULTIPLATAFORMA: DESENVOLVIMENTO DE UM APLICATIVO JORNALÍSTICO MULTIMÍDIA
Zanei Ramos Barcellos, Pedro Henrique M. Nascimento

GRUPO DE TRABALHO: PESQUISA NA GRADUAÇÃO
A FORÇA DO JORNALISMO NO FILME “O QUE É ISSO, COMPANHEIRO?”: ANÁLISE DA HIPÓTESE DA AGENDA-SETTING
Tayná Aparecida Sousa de Freitas

Confira a galeria de fotos do eventos: https://postimg.cc/gallery/XpGv270

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