por Da Redação

O jornalista e professor português Luís Humberto Marcos propôs a criação de um museu de imprensa sem fronteiras nos países de língua portuguesa (Brasil, Potugal e países da África), na palestra de abertura do 2º Encontro Nacional da Rede Alfredo de Carvalho. Na palestra “Memória da Imprensa: o papel científico e pedagógico dos museus midiáticos”, Humberto Marcos falou também sobre o trabalho que realiza no Museu Nacional de Imprensa, na cidade do Porto. Para falar do desenvolvimento do jornalismo, o professor aborda o princípio da história da imprensa, com criação dos tipos móveis pelo alemão Gutemberg, em 1450. A invenção do alemão foi responsável pela popularização do conhecimento, conforme Luís Marcos. Para ele, Gutemberg foi o homem do segundo milênio. Proposta A criação de um museu de imprensa itinerante entre os países de língua portuguesa é a proposta que o professor e jornalista levou à abertura do encontro. Núcleos para selecionar o material de imprensa, como máquinas e jornais antigos, seriam montados nos países para organizar exposições. Um intercâmbio dessas mostras seria feito para que se conhece como a imprensa desenvolveu em cada lugar. Luís Marcos acredita que isso valoriza a imprensa e dinamiza o conhecimento da cultura das nações. “Assim a gente promove a descentralização cultural”, afirma. Museu de Imprensa No Porto, desde de 1997, funciona o Museu Nacional de Imprensa (MNI). A interatividade é a proposta das exposições promovidas nesse local. O professor explica que em geral “os museus são lugares são muito chatos”, mas o MNI é diferente porque proporciona aos visitantes terem o contato com as peças expostas. São dezenas de equipamentos de impressão, que eram usados nos jornais de todo o país, a disposição daqueles que visitam o museu. As pessoas podem fazer a composição dos textos com diversos tipos (estilos de letras) e imprimi-los nas máquinas para levar de recordação. A idealização do museu começou em 1980, quando se buscaram equipamentos que os jornais do país estavam parando de usar. Atualmente Portugal deve ser o país com o maior acervo de imprensa em todo o mundo, destaca Luís Marcos. Como explica o professor, essa foi uma época muito oportuna. Os jornais estavam fazendo a substituição do maquinário com a introdução da informática na imprensa. As máquinas que iriam para o lixo foram recolhidas para montar o museu. O MNI é um dos locais mais visitados no Porto, aponta Luís Marcos. A entrada custa dois euros, sendo que estudantes pagam a metade. Confira trechos da entrevista com Luís Humberto Marcos Unaberta: Qual a diferença do museu de imprensa de um museu tradicional? Luis Humberto Marcos: Os museus foram feitos para que as pessoas olharem apenas, sem tocar em nada. No Museu Nacional da Imprensa, no Porto, os visitantes são encorajados a tocar nas peças, trabalhar nas máquinas, compor e imprimir os textos. UA: O senhor que já esteve várias vezes no Brasil, que diferenças vê nos jornais daqui em relação a Portugal? LHM: O jornalismo brasileiro é muito mais dinâmico, inovador. Vocês fazem as notícias com muito mais proximidade da comunidade. Em Portugal, contam-se histórias ouvindo as fontes mas não mencionando elas. Aqui a ordem das frases é direta: vocês escrevem o que as pessoas falam. Os títulos nos jornais brasileiros são muito melhores também. Vocês dominam a arte de fazer título. Com ironia e bastante sutileza. Em Portugal o jornal é muito mais padronizado. UA: E quanto ao formato dos jornais? LHM: Portugal está começando a inovar agora. Ganhamos vários prêmios mundiais pelas nossas peças gráficas. Uma diferença bastante evidente é a organização dos jornais em diversos suplementos aqui no Brasil. Os jornais portugueses raramente são dessa forma. UA: Em Portugal, vocês conhecem jornalistas brasileiros? LHM: Não. Conheço alguns pessoalmente, mas não por causa dos seus trabalhos. UA: E a televisão brasileira por lá? LHM: As pessoas assistem às novelas da Globo faz tempo. Tanto que até já se notam modificações na linguagem dos portugueses. Por exemplo, os jovens estão dizendo “eu vou na janela”, como os brasileiros, em vez de “eu vou à janela”. O canal GNT também está fazendo muito sucesso, principalmente o programa do Jô Soares e da Marília Gabriela. Eu gosto muito. UA: Portugal não exige o diploma para os jornalistas trabalharem como ocorre no Brasil? Qual a opinião do senhor sobre isso? LHM: A tendência de todas as profissões que se organizam é exigir a formação. Acho que vocês estão muito avançados nesse ponto, é um sinal de maturidade. Na minha opinião, o fato de jornalistas da velha guarda, sem formação acadêmica, dominarem a profissão em outros países impede que se faça essa exigência.

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