por Da Redação

Jornalistas, estudantes, professores e pesquisadores da área de comunicação divulgaram nesta segunda-feira, 30 de março, nota para manifestar atenção quanto ao cenário político brasileiro, particularmente ao que envolve a defesa e fortalecimento da democracia, e a cobertura jornalística realizada pelos meios de comunicação (TVs, rádios, jornais, revistas e portais web) sobre as manifestações de rua acontecidas no mês de março.

Os profissionais destacam o apoio aos recentes protestos, reconhecem o direito que todos têm de ocupar as ruas, manifestar suas posições políticas, independentemente de colorações ideológicas. Em nota destacam a preocupação e repudiam “manifestações de incitação ao ódio e à violência; outras de viés homofóbico e racista; outras ainda de desrespeito à mulher, na figura da presidente da República, manifestações que são, todas elas, uma ameaça à democracia, à convivencia e ao respeito, todos valores intrínsecos à sociedade brasileira”.

Leia a íntegra da nota:

Por um Jornalismo plural e em defesa da democracia

“O que me preocupa não é nem o grito dos corruptos, dos violentos, dos desonestos, dos sem caráter, dos sem ética… O que me preocupa é o silêncio dos bons” (Martin Luther King)

Os representantes e membros das entidades abaixo-assinados, com representação em inúmeras cidades, estados e regiões do país, seja em universidades, empresas e organizações que atuam como pesquisadores, profissionais da comunicação, estudantes e professores da área, vêm a público manifestar preocupações quanto ao atual cenário político brasileiro, particularmente ao que envolve a necessária defesa e fortalecimento da democracia.

Temos acompanhado com atenção e preocupação os acontecimentos que marcam o desenrolar da política brasileira, com real interesse pela cobertura jornalística realizada pelos meios de comunicação (TVs, rádios, jornais, revistas e portais web).

Apoiamos e aplaudimos toda e qualquer iniciativa de investigação contra todo e qualquer indício de corrupção, assim como nos posicionamos contrários ao ajuste fiscal ora apresentado pela presidente Dilma Rousseff, não por promover ajustes, mas porque eles seguem a velha receita de manter a salvo as grandes fortunas e impor restrições às classes que estão na base da pirâmide social, diminuindo recursos de áreas como a saúde e a educação, com reais prejuízos para o ensino e a pesquisa nas universidades brasileiras, e restringindo direitos já conquistados pela classe trabalhadora em geral.

Na esteira dessas considerações iniciais, manifestamos nosso apoio aos recentes protestos, reconhecendo o direito que todos têm de ocupar as ruas, manifestar suas posições políticas, independentemente de colorações ideológicas. Entretanto, vimos com preocupação, e repudiamos fortemente, manifestações de incitação ao ódio e à violência; outras de viés homofóbico e racista; outras ainda de desrespeito à mulher, na figura da presidente da República, manifestações que são, todas elas, uma ameaça à democracia, à convivência e ao respeito, todos valores intrínsecos à sociedade brasileira.

Um outro aspecto de preocupação das entidades e profissionais signatários deste documento diz respeito à cobertura midiática que vem sendo efetivada acerca dos episódios recentes pelos quais passa o país, especialmente a corrupção, seus consequentes processos de investigação, a realização das marchas de protesto e os acontecimentos associados a tais fenômenos.

Reconhecemos a importância do sistema midiático como lastro essencial para a consolidação da democracia; reiteramos a necessidade da defesa de que a mídia exerça o seu direito de informar a sociedade, alicerçado na prerrogativa da apuração e da investigação. Entretanto, alertamos que a cobertura midiática desses acontecimentos coloca em xeque, na maioria dos casos, uma compreensão plural dos episódios, propõe uma visão unilateral dos fatos, ameaçando assim o próprio processo democrático de constituição de uma opinião pública livre, autônoma e calcada na diversidade.

De fato, a cobertura midiática realiza-se privilegiando algumas estratégias centrais, a saber:

– Tematização e enquadramento de acontecimentos de maneira a favorecer intencionalmente uma visão negativa dos governos petistas, com flagrante sugestão de incitação ao ódio e ao antipetismo, ao mesmo tempo em que cria uma blindagem a governos anteriores;

– Divulgação seletiva dos fatos, priorizando “pequenas pílulas de informação”, retirando-se dos conteúdos midiáticos o enunciado próprio do processo de investigação e da consequente elaboração de uma versão plural e aprofundada dos acontecimentos, com cobertura de todas as suas nuances.

– Cobertura exaustiva e sistemática, com ênfase negativista acerca do país, pondo a serviço desse exercício articulistas de jornais e revistas, apresentadores de rádio e âncoras de TV, que insuflam na sociedade o pessimismo, a revolta e a desqualificação do governo eleito democraticamente em 2014.

– Cobertura tendencialmente favorável aos partidos políticos de oposição, os quais se opõem às linhas de desenvolvimento e às políticas inclusivas implementadas no País, propondo, em contrapartida, realinhamento à tendência neoliberal global e à política externa dos Estados Unidos da América.

Em vez de informar e possibilitar ampla reflexão, a cobertura midiática vigente julga e condena a partir de informações parciais e unilaterais, prestando, assim, um desserviço real à sociedade brasileira. Com isso, coloca-se como um péssimo exemplo para os futuros jornalistas e desmente as lições perenes a serem valorizadas pelo campo jornalístico, quais sejam, a defesa intransigente da liberdade de expressão por parte dos cidadãos e da liberdade de informação jornalística por parte da mídia e dos profissionais da notícia, o que só tem sentido se for respeitado o direito dos cidadãos a informações verdadeiras, plurais, de interesse público, independentemente da linha editorial das empresas.

Fazemos, por fim, um alerta aos empresários de mídias do país, assim como aos jornalistas empenhados nesse tipo de cobertura: vivemos num perigoso limiar, em que tradicionais grupos de mídia perdem credibilidade e audiência, em um claro divórcio com os anseios de uma sociedade que busca reagir a essa comunicação hegemônica, criando-se um campo de disputas que, longe de fortalecer os processos de comunicação, enfraquecem o exercício do jornalismo e ameaçam a própria democracia.

É, portanto, necessário incentivar um amplo debate público, visando fortalecer o compromisso com a defesa de todas as instituições democráticas do País. E isso significa que é preciso, também, aceitar e defender os resultados de escolhas eleitorais, independentemente de concordar ou não com as prioridades políticas. O respeito à democracia pressupõe aceitar e conviver com o exercício e a expressão das diferenças. E isso é também um compromisso social dos meios de comunicação.

Brasil, 31 de Março de 2015.

Entidades e profissionais que assinam este documento:

Associação Paraibana de Imprensa

Centro Acadêmico de Jornalismo João do Rio (CAJOR – UEPG)

Fórum Paranaense de Pós-Graduação em Comunicação

Fórum Nacional de Professores de Jornalismo (FNPJ)

Frente Paranaense pelo Direito à Comunicação e Liberdade de Expressão (FRENTEX-PR)

Rede de Estudos e Pesquisa em Folkcomunicação (Rede Folkcom)

Sindicato dos Jornalistas Profissionais da Paraíba

Sindicato dos Docentes da UEPG (Sinduepg/ANDES-SN)

TVCom PG (Associação das Entidades Usuárias do Canal Comunitário de Ponta Grossa/PR

Rafael Freire, presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais da Paraíba

Marcela Xavier Sitonio, presidente da Associação Paraibana de Imprensa

Joana Belarmino de sousa, professora de Jornalismo da Universidade Federal da Paraíba

Sandra Regina Moura, coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Jornalismo da UFPB

Lúcia de Fátima Figueiredo, assessora do Sindicato dos Trab. em Educação Superior da Paraíba

Maria do socorro Andrade, filiada ao sindicato dos Jornalistas do Município do Rio de Janeiro

Alexandre Urquiza de Sá, professor do Instituto Federal de Educação da Paraíba

Edson Verber da Silva, jornalista do sistema Correio de Comunicações da Paraíba

Lande Seixas, diretor do Sindicato dos Jornalistas Profissionais da Paraíba

Hebe Gonçalves, Universidade Estadual de Ponta Grossa

Edson Spenthof, Universidade Federal de Goiás

Elson Faxina, Universidade Federal do Paraná

Paula Melani Rocha, Universidade Estadual de Ponta Grossa

Francisco José Castilhos Karam, Universidade Federal de Santa Catarina

Luiz Gonzaga Motta, Universidade Federal de Santa Catarina

Graça Caldas, Labjor/IEL/Unicamp

João Batista de Abreu, Universidade Federal Fluminense (IACS/UFF)

Osni Tadeu Dias, Coordenador do Curso de Jornalismo FAAT (SP)

Angela Farah, professora da UNIUV

Maria Luiza Franco Busse, Rio de Janeiro

Alfredo Vizeu, Universidade Federal de Pernambuco

Sérgio Luiz Gadini, coordenador do Mestrado em Jornalismo da UEPG

Mirna Tonus, Universidade Federal de Uberlândia, presidente do FNPJ

Marcelo Bronosky, vice-presidente FNPJ

Roseméri Laurindo, coordenadora do Curso de Jornalismo da FURB (Blumenau)

Gerson Luiz Martins, Universidade Federal do Mato Grosso do Sul

Felipe Simão Pontes, Pós-doutorando em Jornalismo na UEPG

Franci Brito, FNPJ, São Paulo

Heitor Costa Lima da Rocha, professor da Universidade Federal de Pernambuco

Juliano Maurício de Carvalho, Universidade Estadual Paulista (UNESP)

Erivam Oliveira, professor da ESPM/SP, diretor do FNPJ

Ana Paula Machado Velho, UniCesumar

Paulo Roberto Botão, coordenador do Jornalismo da UNIMEP, Sindicato dos Jornalistas de SP

Leonel Aguiar, Departamento de Comunicação Social/PUC-Rio (coordenador da graduação)

Raquel Ritter Longhi, professora da Graduação em Jornalismo e do PósJor UFSC

Dennis de Oliveira, chefe do departamento de Jornalismo e editoração da ECA/USP

Edelberto Behs, Coordenador curso de Jornalismo da Unisinos.

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