Consulta pública do INEP avalia a Dimensão 4 do novo instrumento de avaliação de curso

ABEJ analisa a proposta e entende que são necessários ajustes no documento
A diretoria da Associação Brasileira de Ensino de Jornalismo (ABEJ) orienta os professores para participarem da consulta pública aberta pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP). A ação propõe uma nova dimensão como parte do instrumento de avaliação in loco para os cursos de ensino superior, conforme publicado anteriormente. A consulta segue até 24 de novembro pelo site do INEP.
Uma análise feita pela diretoria da ABEJ, prevê alguns problemas no processo de avaliação, se mantida a proposta como está. Nesse sentido, a participação na consulta deve levar em conta os riscos de incoerências nas avaliações para os cursos de Jornalismo. Além das orientações para os professores, a ABEJ também busca uma agenda com representantes do INEP para apresentar os problemas.
O maior deles, do ponto de vista da diretoria, está na avaliação por grupo de cursos a partir da Classificação Internacional Normalizada da Educação Adaptada para Cursos de Graduação e Sequenciais de Formação Específica (Cine Brasil). Os cursos de Jornalismo serão avaliados pelos mesmos critérios de cursos como Psicologia, Economia, Museologia, Ciência Política, Ciências da informação, entre outros que compõem a área de Ciências Sociais, Comunicação e Informação. Além disso, as comissões serão compostas por professores destes cursos, o que pode gerar resultados controversos para Jornalismo, já que há pouca afinidade.
A diretoria da ABEJ elaborou um relatório pontual sobre os problemas da Dimensão 4 e que devem ser conferidos pelos professores de Jornalismo. A seguir, apresenta-se os aspectos mais problemáticos:
- Conteúdos em políticas públicas:
Neste item aparece a exigência de abordagem interdisciplinar. É preciso maior detalhamento sobre o que será considerado como interdisciplinar, como isto será avaliado objetivamente e se caberá também aos cursos de Jornalismo. Vale lembrar que política pública não é um elemento central nos cursos, conforme as Diretrizes de Jornalismo. Este tipo de conteúdo, em geral, pode se dar de modo contextual, em atividades práticas do jornalismo, mas precisariam ser melhor especificados para evitar subjetivismo na avaliação.
Ainda neste item, exige-se que os conteúdos curriculares tratem ética e transparência na administração pública e formulação de políticas e planejamento estratégico e operacional em políticas públicas. O problema estaria na exigência de competências que são de cursos de administração/gestão pública, algo que faz sentido em Ciência Política e Ciências Sociais, mas não é algo predominante na formação em Jornalismo.
- Compreensão crítica das estruturas sociais, culturais e políticas:
Há uma dificuldade de compreender objetivamente o que será avaliado neste tópico. A verificação de Estratégias de ensino-aprendizagem do curso e articulação entre teoria e prática investigativa no processo formativo podem gerar avaliações subjetivas e abrir brechas para que teorias exógenas sejam exigidas para a formação em Jornalismo. Além disso, no item transversalidade temática entre os componentes curriculares da área de Ciências Sociais, Comunicação e Informação, a avaliação penderia para exigir a transversalidade com cursos não tão próximos em termos curriculares, como Economia ou Psicologia, enquanto que Publicidade, Relações Públicas ou Cinema, incluídos em outra área, não seriam consideradas para aspectos transversais.
- Desenvolvimento de Competências para investigação acadêmica:
Não está claro o tipo de investigação acadêmica que será verificada. Aspectos relacionados a técnicas de coleta de dados e acesso a fontes primárias e secundárias de dados, são comuns em atividades laboratoriais de Jornalismo. Assim seria importante definir se este item avalia pesquisa, ensino ou extensão.
Outro item, refere-se à ética em pesquisa com seres humanos. É preciso considerar que já existe uma proposta de protocolo ético para áreas das Humanas, Ciências Sociais e Linguística. Seria importante que fosse definido qual dos protocolos será seguido.
Por fim, a respeito da circulação do conhecimento acadêmico em formatos que alcancem a comunidade, é preciso questionar como serão mensuradas estas iniciativas. Produtos laboratoriais jornalísticos, por exemplo, alcançam a comunidade, mas como avaliar isto pensando na pesquisa ou na extensão?
- Prática profissional e/ou Estágio Curricular na área específica de formação do curso:
A proposta é pouco clara sobre elementos que serão avaliados neste aspecto. Quais evidências serão consideradas para avaliar o compromisso com a qualidade e excelência, no estágio ou nas práticas laboratoriais em Jornalismo?
Outro item preocupante com relação ao estágio é a exigência de indução dos alunos ao empreendedorismo e sustentabilidade. Este indicador está descolado das competências a serem formadas pelos cursos de Jornalismo no âmbito do estágio. Um aspecto que poderia ser levado em conta é a supervisão do estágio, sobretudo, a verificação da formação dos supervisores que, pelas DCNs de Jornalismo, devem ser formados na área.
- Um aspecto não abordado pela proposta de Dimensão 4 são as práticas laboratoriais. Em outras áreas como Negócios, Administração e Direito, consta um item específico para avaliação deste tipo de atividade. Segundo as DCNs de Jornalismo, a prática laboratorial corresponde a uma atividade central na formação, o que talvez não seja o caso dos demais cursos da área de Ciências Sociais, Comunicação e Informação. Nesse sentido, seria muito importante que a dimensão também tratasse destas questões que são fundamentais para uma boa formação em Jornalismo.



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