“Carta do Recife” e manifesto em defesa da formação superior em jornalismo são resultados de encontr

por Da Redação

O Recife sediou, em dezembro de 2008, o Encontro Regional de Professores de Jornalismo. Na ocasião, profissionais (das escolas de comunicação, redações, assessorias) e estudantes puderam trocar experiências, promover debates e esboçar ações conjuntas. O foco estava no objetivo do evento: enriquecer as discussões acerca do ensino e do exercício profissional, além de fortalecer a luta em defesa da formação superior em jornalismo.

A jornada buscou uma maior aproximação entre instituições e todos aqueles que fazem jornalismo, permitindo o aprofundamento de questões importantes e o planejamento de alguns possíveis passos, ainda que, neste momento, estejam ainda no âmbito das sugestões. Pode-se considerar que, na prática, algo que se propõe a ser uma contribuição efetiva do encontro é a “Carta do Recife”, resultado do diálogo que marcou a plenária final do evento, na tarde do dia 12 de dezembro. Professores de jornalismo e estudantes debruçaram-se sobre experiências ali relatadas e buscaram alimentar esperanças, sistematizadas nesse documento.

Os professores que participaram da elaboração do documento esperam que ele se configure, de fato, numa colaboração válida neste período histórico que atravessa a profissão de jornalista.

Outra iniciativa dos participantes foi a produção de um breve manifesto, na forma de panfleto virtual, ressaltando a importância da mobilização em torno da Campanha em Defesa da Formação Superior em Jornalismo.

Confira o conteúdo da “Carta do Recife” e do manifesto.

CARTA DO RECIFE

Algumas breves reflexões sobre a formação em jornalismo

Como acontece em praticamente todos os debates que envolvem a questão do ensino no Brasil, o cenário reconhecido como predominante, pelo coletivo que participou desta plenária, não era animador. A educação mereceria um olhar mais cuidadoso. E sua ainda significativa carência de valorização, a partir de políticas públicas transformadoras, agrava-se com o marcante quadro de mercantilização. Explosão de faculdades particulares, critérios pouco pedagógicos para reconhecimento dos processos de ensino e aprendizagem. Isso também é observado no campo da formação em jornalismo. E estaria entre as razões para uma certa apatia, uma falta de motivação a ameaçar professores e estudantes, nas escolas de comunicação.

O desafio é promover mais do que uma injeção de ânimo, que poderia ser apenas pontual. É necessário desenvolver – e institucionalizar – diretrizes e providências concretas que despertem (ou façam acordar) o interesse dos corpos docente e discente, realimentando o espírito do fazer dentro da Academia. E ainda: o Jornalismo, missão eminentemente vinculada a um compromisso social (com a verdade, com a reflexão produtiva, com a democracia, com a ética), deve reconhecer-se neste universo com uma atitude diferenciada, que pode começar na escola. Assim, desde o ensino de jornalismo, contemplando-se aqui os campos da pesquisa e da extensão, assumiria-se a tarefa de atuar dentro e fora das universidades, vencer muros e obstáculos e “tocar as pessoas”, com projetos e práticas que repercutam – nos mais diversos locais e das mais variadas formas – na vida da população. Enxerga-se também nesta decisão um incentivo adicional a professores e alunos, no sentido da valorização do seu papel social e na aproximação do interesse público – estimulando, por consequência, outras retomadas e avanços.

Algumas questões mostraram-se consensuais, ou amplamente majoritárias, no debate empreendido durante o Encontro Regional de Professores de Jornalismo. Entre elas, merecem destaque:

Internamente: conceitos e práticas

. O estágio. O cuidado e o acerto com relação à hora apropriada para se “entrar no mercado”. E a garantia de um acompanhamento mais efetivo pelas instituições de ensino, para que um estágio possa, de fato, contribuir com uma formação de qualidade e favorecer a empregabilidade dos futuros profissionais, sem disputas de espaço com o processo de formação.

. A capacidade de criar novos projetos, fugindo ao lugar-comum, ousando (como tem se mostrado possível, a partir de relatos de experiência trazidos ao encontro, a exemplo do grupo de pesquisa Jornalismo e Contemporaneidade e do Projeto Coque Vive, ambos da UFPE). Apostar, também, na interdisciplinaridade com um fator que permite a potencialização de resultados. Sem esquecer da interface possível com os profissionais que estão no mundo do trabalho, em redações e assessorias.

. A busca por uma maior sintonia na relação professor-aluno, que deveria se estabelecer com base no respeito mútuo, mas como um terreno capaz de abrigar parcerias, sobretudo quando se tem o intuito de atuar fora dos limites da escola, em projetos de repercussão social.

. Implementar um processo mais criterioso de seleção dos professores, na iniciativa privada, associado a um maior rigor no acompanhamento do trabalho docente (postura ética, compromisso) e na avaliação do desempenho de estudantes – inclusive os perfis de entrada e de saída. Assegurar, em paralelo, melhores condições de trabalhos para os profissionais, nas salas de aula e laboratórios, garantindo assim também condições mais adequadas para o aproveitamento dos alunos (no que diz respeito a equipamentos para as disciplinas práticas, por exemplo). Por fim, efetivar espaços crescentes para pesquisa e extensão, com maior incentivo institucional. Considere-se, para tal, a capacidade de firmar parcerias e empreender articulações externas, inclusive com o próprio Ministério da Educação e com entidades apoiadoras, nas esferas pública e privada.

Externamente: encontro com a sociedade

. É hora de investir na valorização profissional e na aproximação com a sociedade. Uma das propostas é a realização de uma campanha nacional, com o fim de tornar pública e consolidada a função social do jornalismo. O momento é propício, e de certa forma reforça a necessidade desta iniciativa, em função do julgamento que manterá ou não a obrigatoriedade da formação superior em jornalismo. Como um primeiro passo, apenas provocador, o Encontro Regional lançou o seu manifesto, na forma de panfleto virtual, com o entendimento de que “um mundo que busca respostas precisa de jornalistas”.

. Como um dos possíveis desdobramentos desta iniciativa anterior, ou mesmo deflagrando-a como processo simultâneo, foi visto como importante o trabalho de consolidação do jornalismo como campo de estudo reconhecido. E, em parte, este avanço se fará possível justamente a partir de projetos de pesquisa que ampliam a interface do meio acadêmico com o universo social.

. Para fortalecer a rede que pretende dar sustentação e tecer novos espaços para o jornalismo, no Brasil, foi registrada a defesa de um maior engajamento – tanto de profissionais quanto de estudantes – nos embates relativos à formação e ao exercício da profissão. A defesa do diploma é apenas um bom e atual exemplo. A apatia, mencionada no início deste documento, pode provocar efeitos danosos, aqui.

. Associada à proposição acima, levantou-se a sugestão de fortalecimento das instituições que representam a categoria – que seria um dos resultados diretos desta maior mobilização esperada, por parte de profissionais e estudantes. A Federação Nacional dos Jornalistas – Fenaj, o Fórum Nacional de Professores de Jornalismo – FNPJ, a Sociedade Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo – SBPJor e os sindicatos, são algumas destas instituições. As quais, de acordo com os participantes da plenária, signatários deste documento, também devem movimentar-se junto à sociedade, ampliando sua capacidade de articulação. Um dos resultados esperados, diante deste esforço coletivo, é o funcionamento efetivo do Conselho Nacional de Comunicação.

MANIFESTO

O Supremo Tribunal Federal deve julgar, agora em fevereiro de 2009, se a Formação Superior continuará sendo um requisito para o exercício do JORNALISMO. Ou seja, a Justiça vai dizer se a função de jornalista permanece sendo assumida por profissionais, devidamente formados e diplomados. Estamos, portanto, em campanha a favor do jornalismo, na defesa desta causa. Para que a sociedade brasileira não venha a sofrer os efeitos de um retrocesso. A qualidade da informação que circula, nos mais diversos meios de comunicação, em todo o país, está diretamente relacionada à qualidade dos profissionais encarregados desta tarefa. No jornalismo, informação tem a ver com formação. E isso está vinculado a um bem coletivo: o interesse público. Por isso continuamos mobilizados, agradecendo o apoio da imensa maioria da população (registrado em pesquisa nacional). Estamos mantendo nas ruas a campanha de esclarecimento, combatendo esta tentativa de ameaçar o Jornalismo Profissional, o jornalismo de qualidade. Nós, profissionais e estudantes, optamos por assumir uma missão. E sabemos o quanto a nossa formação vai além da técnica. É preciso aprender muito, em teoria e prática, para desempenhar este trabalho marcado pelo diálogo, esta mediação tão importante que garante às pessoas o acesso à informação. Continuaremos na luta pela democratização, a liberdade e a ética. Sempre exigindo respeito e trabalhando para preservar e ampliar o direito humano à comunicação plural, honesta, comprometida com a verdade. A população defende o profissional de Jornalismo. Esperamos apenas que a Justiça concorde com a sociedade.

ESTE MANIFESTO É UMA INICIATIVA DE PROFISSIONAIS E ESTUDANTES QUE PARTICIPARAM DO ENCONTRO REGIONAL DE PROFESSORES DE JORNALISMO, EM DEZEMBRO DE 2008, NO RECIFE. O EVENTO FOI PROMOVIDO PELO SINDICATO DOS JORNALISTAS DE PERNAMBUCO, EM PARCERIA COM A FEDERAÇÃO NACIONAL DOS JORNALISTAS – FENAJ E O FÓRUM NACIONAL DE PROFESSORES DE JORNALISMO – FNPJ.

Artigos relacionados

Respostas