por Arthur Prado, Fernando Borges e Thaís Gomes da Silva, FCS/UERJ
Mesa de encerramento do Encontro Rio – Espírito Santo avaliou impactos das redes digitais sobre a atividade jornalística
Na mesa de encerramento do 5º Encontro Rio-Espírito Santo de Professores de Jornalismo, as discussões se concentraram na reconfiguração das práticas profissionais devido ao processo de convergência de mídia. Beatriz Becker, professora da UFRJ e editora da revista Brazilian Journalism Research (BJR), lembrou que o jornalismo vive crises cíclicas há 200 anos e afirmou que estas crises trazem a oportunidade de reinvenção da atividade. A descentralização trazida pelas novas redes digitais estaria oferecendo a possibilidade de um jornalismo mais inclusivo, mas, segundo a pesquisadora, há restrições à circulação de conteúdos em diversos países que devem ser consideradas. No mundo capitalista, uma questão-chave hoje é a sustentabilidade econômica da mídia independente. “Percebe-se uma dificuldade para, no jornalismo, pensar o outro para além de um lugar de consumidor”, afirmou, ao refletir sobre o atual papel de mediador exercido pelo jornalista.
Outro participante da mesa, João Batista de Abreu, professor da UFF, criticou a lógica da convergência, que tem levado à imposição de jornadas de trabalho extenuantes, com a produção de conteúdos jornalísticos para diversos suportes, o que estaria acarretando perda de qualidade. Abreu saudou inovações como o chamado jornalismo colaborativo ou cidadão, mas com ressalvas: para ele, é preciso ficar atento ao risco de atuação de lobbies, de grupos de interesse na imprensa.
O último integrante da mesa, Elias Machado, professor da UFSC, analisou as características do processo de convergência e cobrou transparência no acesso público às bases de dados, sem o que, destacou, a atividade jornalística ficará cada vez mais difícil. Ao final, o pesquisador levantou uma polêmica, ao defender o controle social das mídias sociais: “Quem regulamenta o Twitter, o Facebook?”, questionou, destacando o peso destas empresas privadas na circulação de informações na sociedade contemporânea.
Avaliação evento
O chefe do Departamento de Jornalismo da FCS/UERJ, Fabio Mario Iorio, destacou a atualidade e o nível das discussões e revelou que trabalha para viabilizar a publicação em livro dos principais trabalhos apresentados.
“O curso de Jornalismo da UERJ teve a oportunidade de abrigar o 5º Encontro Rio-Espírito Santo de Professores de Jornalismo, sendo contemplado com o debate atual da realidade contemporânea da profissão, das mídias, do ensino de jornalismo e da pesquisa sobre sua prática discursiva, prevalecendo durante o dia o intercâmbio e a interação entre alunos, professores e jornalistas, deixando na memória destes participantes a pauta de importantes desafios, desde os aspectos transformadores da convergência dos meios até o paradoxo da cultura participativa lado a lado com o sintoma capitalista da acumulação. Buscaremos agora como coroamento a publicação desses trabalhos produzidos e discutidos em cada mesa do evento”, afirmou Iorio.
O coordenador geral do Encontro, João Pedro Dias Vieira, da FCS/UERJ, também comemorou o alto nível dos debates e previu desdobramentos em termos de formação de redes de pesquisadores. “A quantidade de artigos apresentados e a diversidade de professores indicam que as sementes foram lançadas com sucesso pelo FNPJ, que colhe, no Rio de Janeiro, frutos de qualidade. Precisamos fortalecer mais esses encontros, talvez com eventuais mesas a serem apresentadas nos cursos que se interessarem. Com isso, além de aproximar os professores, fortalecendo nossos ideais, também provocamos reflexão em outros colegas e alunos.”
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Arthur Prado, Fernando Borges e Thaís Gomes da Silva, estudantes do 5º período de Jornalismo da FCS/UERJ