A cobertura da pandemia de coronavírus no Brasil tem sido marcada tanto pelo o empenho e pela qualidade da cobertura produzida pelos Jornalistas quanto pelo inédito ataque aos profissionais da Imprensa – que chegam a ser impedidos de realizar seu trabalho de apurar e informar durante reportagens em campo, principalmente equipes de TV.
O Jornalismo está baseado em pilares claros e perpétuos: o compromisso com a verdade e a informação, o respeito a princípios universais de Justiça e democracia, a garantia do espaço do contraditório e o atendimento ao interesse público em primeiro lugar.
É assim que o Jornalismo informa as sociedades democráticas, ao garantir o direito e a liberdade de cada cidadão formar sua própria opinião, ser respeitado por ela. Esse é o trabalho diário de milhares de jornalistas de TV, rádio, jornais, revistas e internet por todo o Brasil.
Ao seguir essas diretrizes, o jornalismo brasileiro teve papel crucial para as revelações de informações fundamentais para a história recente do país, como os fatos que levaram ao impeachment do presidente Collor, as notícias de compras de votos de parlamentares na votação da lei da Reeleição, no governo FHC; o caso chamado “Mensalão”, na gestão de Lula da Silva; o “Petrolão” e a tragédia econômica que se formou, escondida por trás de medidas da gestão Dilma Rousseff; as denúncias contra ministros de Michel Temer e do ex-candidato Aécio Neves. Em todos esses casos, as revelações provocaram a ira de apoiadores dos acusados.
Todos esses episódios foram garantidos pela liberdade de expressão e de Imprensa. Sem essas garantias, morre qualquer chance de sobrevivência saudável de uma sociedade que mereça ser chamada como tal.
Neste momento inédito enfrentado por toda a Humanidade, uma verdadeira guerra pela manutenção da vida passa pela busca de informações que podem significar a diferença entre viver ou morrer de Covid-19.
O que deveria ser uma guerra pela manutenção da vida, entretanto, inesperadamente viu serem abertas novas frentes de batalha aqui no Brasil – com o Jornalismo trazido para dentro das trincheiras numa luta ultrajante e incompreensível contra a Liberdade de Imprensa e a Liberdade de Expressão. Em suma, contra a própria democracia.
Se “na guerra, a verdade é sempre a primeira vítima”, como definiu o senador estadunidense e ex-governador da Califórnia, Hiram Warren Johnson (1886-1945), não é admissível que, em meio à própria pandemia, jornalistas profissionais sejam agredidos e cerceados em seu direito de trabalhar e na sua obrigação de bem informar. Querem matar a verdade à força por meio de constrangimento ilegal, imoral e criminoso.
Não são poucos os casos de Jornalistas sendo violenta e vergonhosamente agredidos enquanto cumprem seu dever de informar. Isso quando não estão sendo impedidos de realizar seu trabalho de campo. Seus agressores são pessoas que duvidam do trabalho de Jornalismo sério, enquanto cegamente acreditam em posts anônimos, apócrifos e que claramente não passaram por qualquer tipo de checagem. E que, por não “concordar” com os fatos, resolvem matar o mensageiro.
Por isso, professores de Jornalismo de todo o Brasil subscrevem este manifesto, que vem reiterar o desprezo por manifestações antidemocráticas e criminosas contra o trabalho da Imprensa e dos profissionais do Jornalismo. Seja de quem for ou como for.
Não nos manifestamos somente pelo respeito ao trabalho de profissionais que ajudamos a formar, mas pela convivência civilizada e respeitosa de pontos de vista diversos e pela firme disposição de trabalhar, diuturnamente, pela manutenção sadia e democrática das liberdades de Imprensa e de Expressão.
São Paulo, 27 de abril de 2020
Eloiza Frederico Oliveira
Heidy Vargas
Jorge Tarquini
Leão Serva
Patricia Gil
Ricardo Fotios
Para aderir ao manifesto.