Carta de Ponta Grossa

por Assembleia Geral Ordinária do 18º ENPJ

Os professores, profissionais e estudantes de Jornalismo, reunidos em Ponta Grossa, de 25 a 27 de abril de 2019, durante o 18º Encontro Nacional de Professores de Jornalismo, discutiram a situação do ensino de jornalismo e da prática profissional no contexto das transformações tecnológicas e da deterioração das relações sociais e políticas no Brasil. A educação no Brasil passa por desafios de ordem econômica, tecnológica e principalmente política, tendo em vista as intervenções persecutórias promovidas pelo atual governo.

As constantes trocas de integrantes do Ministério da Educação e do INEP, bem como as propostas que representam retrocessos para o ensino, a pesquisa e a extensão no Brasil, com impactos diretos sobre a formação em nível superior e o desenvolvimento científico do país, aprofundam as incertezas sobre o futuro brasileiro.

É evidente também uma obscura política de combate às disciplinas das áreas de humanas e sociais, fundamentais para a formação de jornalistas. Sob o pretexto de enfrentamento à “ideologia do marxismo cultural”, o governo federal e boa parte dos governos estaduais, promovem a descaracterização dos fundamentos do ensino, selecionando o que deve e o que não deve ser ensinado nas Universidades, afetando diretamente a autonomia universitária e a liberdade de cátedra.

Fiel a uma política de desmonte das universidades públicas, favorecendo uma lógica privada do ensino, os governos cortam recursos para ciência, reduzindo significativamente as possibilidades de investimentos em infraestrutura, contratação de professores, ampliação de vagas, financiamento de pesquisas, realização e participação em eventos científicos e a redução das bolsas de pesquisa e extensão, atendendo interesses das grandes corporações transnacionais.

Nas instituições privadas a lógica do mercado se impõe determinando práticas que visam reduzir custos e aumentar lucros com vistas a atender exigência de investidores. Intensificação do trabalho, acúmulo de tarefas e redução de direitos dificultam o desenvolvimento das atividades profissionais dos professores de jornalismo, precarizando suas condições de vida.

As escolas de Jornalismo do Brasil enfrentam desafios cada vez maiores para a garantia da qualidade na formação de futuros profissionais. Em grande parte, torna-se cada vez mais difícil atender aos requisitos do Programa de Estimulo à Qualidade do Ensino de Jornalismo da FENAJ e do qual a ABEJ é signatária. Neste novo cenário, é fundamental que se revisem os itens do documento.

Os coordenadores apontam para a necessidade de avaliar a implantação das novas diretrizes junto às faculdades de jornalismo, considerando um modelo que aproxime o ensino de jornalismo às realidades brasileiras, como forma de garantir os princípios epistêmicos e filosóficos constituídos pelas DCNs da área.

Outro tema debatido na reunião dos coordenadores foi o ensino de jornalismo a distância. Muitos coordenadores demonstraram preocupação com o EAD e as atividades práticas laboratoriais que poderiam ser oferecidas. Também, o relato dos Coordenadores mostrou a preocupação quanto à avaliação externa dessa modalidade de cursos. Como partes das ações, os Coordenadores sugerem a elaboração de uma proposta de revisão dos critérios de avaliação dos cursos de Jornalismo a distância e a realização de um painel no 19º Encontro Nacional de Professores de Jornalismo para aprofundar a exposição e o debate sobre o EAD.

Outra questão tratada pelos coordenadores é a necessidade de um maior debate a respeito do estágio curricular e do estágio não-obrigatório em Jornalismo. Ressalta-se a necessidade de acionar as entidades envolvidas para que se aprofundem os processos de fiscalização para garantir que o estágio seja realizado dentro de critérios que realmente permitam a complementação da formação acadêmica, impedindo que esta seja uma prática para exploração de mão-de-obra barata.

Também apontou-se a necessidade de uma articulação e promoção maior dos temas relacionados à extensão nos cursos de jornalismo, a partir de um painel no próximo evento, como forma de acumular conhecimento sobre essas atividades e seus impactos na formação, com objetivo de influenciar os mecanismos de avaliação a partir de critérios específicos, a luz das DCNs.

APROVADA NA ASSEMBLEIA GERAL ORDINÁRIA DA ABEJ REALIZADA NO 18º ENCONTRO NACIONAL DE PROFESSORES DE JORNALISMO

Ponta Grossa, 27 de abril de 2019.

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